“Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.”
Com seis anos de atraso, o Tribunal de Contas da União (TCU) julgou improcedente e arquivou a representação contra a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), feita em 2017, em decorrência de um suposto esquema de superfaturamento no aluguel de veículos no programa Universidade Aberta do Brasil (UBA). Tais fatos jogam luz à espetacularização penal trazida pela Operação Ouvidos Moucos, adjacente da Lava Jato, e deflagrada pela Polícia Federal sob indiscutíveis ilegalidades, abusos e contradições.
A Universidade Federal de Santa Catarina e seu Magnífico Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo vivenciaram umas das maiores tragédias dos últimos anos de história deste país: a Operação Lava Jato. Ambos foram vítimas de um impiedoso e doloroso processo de perseguição política, que dilacerou toda comunidade acadêmica, deixando cicatrizes que permanecerão abertas, pois a injustiça para aqueles que nos tiraram Cancellier ainda permanece.
Sem direito à ampla defesa, ao contraditório e com comprovadas ilegalidades, o processo contou com intensa e desproporcional exposição e cobertura midiática, legitimando o abuso de poder perpetuado pela Polícia Federal e influenciando a opinião pública.
Vítima de uma perseguição política desleal, de uma prisão vexatória e de um processo criminal repleto de incongruências, o legado de Cancellier segue vivo na memória da universidade, de seus alunos, amigos e sua amada família, que permaneceu sempre na luta pelo reconhecimento da inocência do reitor.
Manter viva a memória de Luiz Carlos Cancellier de Olivo é reafirmar os compromissos assumidos enquanto comunidade acadêmica. Seguiremos em defesa de um ensino público, gratuito e de qualidade, pautados pelos ensinamentos do diálogo e da união de esforços, ensinamentos deixados pelo eterno professor Cau. A defesa pela construção de um permanente estado de vigilância, para que jamais tenhamos que vivenciar novamente ameaças à autonomia universitária e à democracia.
O Centro Acadêmico XI de Fevereiro reconhece seu papel perante a comunidade acadêmica e externa, e vem a público se posicionar diante dos novos fatos apresentados e se solidarizar, desejando nossos mais sinceros sentimentos aos familiares, amigos e alunos que convivem com o luto e sofreram – e sofrem – as duras consequências da perda.
Cancellier presente!
Florianópolis, 08 de julho de 2023.